A Unidade do Evangelho - Comentários da Lição 3


Lição 03 – 08 a 14 de outubro de 2011
(Comentários do irmão César Pagani)

VERSO EM DESTAQUE: “Completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento.” (Fp 2:2)

“[...] a fim de que todos sejam um; e como és Tu, ó Pai, em Mim e Eu em Ti, também sejam eles em Nós; para que o mundo creia que Tu Me enviaste.” (Jo 17:21)

A fervente oração de Jesus expressava o anelo incontido de Seu santo coração pela unidade de Seus seguidores. É surpreendente a ênfase que Cristo dá à unificação. Ele deseja que nós, Seus discípulos, tenhamos a mesma unidade de propósito, de amor, de dedicação que Ele tem com o Pai. A Divindade é o modelo perfeito de unidade. Essa integração é tão grande que três Pessoas distintas constituem um só Deus. “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor.” (Dt 6:4) “A ti te foi mostrado para que soubesses que o Senhor é Deus; nenhum outro há, senão Ele.” (Dt 4:35) “Assim diz o Senhor, Rei de Israel, seu Redentor, o Senhor dos Exércitos: Eu Sou o primeiro e Eu sou o último, e além de mim não há Deus.” (Is 44:6. Comparar com Ap 1:17)

Não podemos confundir unidade com ajuntamento. São conceitos diferentes. Como bem explicita a introdução da lição, não podemos comprometer princípios para conservar a integração. Os que são unidos no Mestre têm “o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus” (Fp 2:5).

A primeira unidade tem de ser em amor. Que nos amemos uns aos outros assim como Ele nos amou. A segunda unidade tem de ser de doutrina. Não podemos crer em ensinos diferentes daqueles revelados nas Escrituras. A terceira unidade tem de ser a de ação. Temos a Grande Comissão pesando sobre nossos ombros. Precisamos trabalhar unidos, movidos pelo Espírito Santo e segundo os planos e campanhas nos quais somos orientados. A quarta unidade tem de ser mediante o exercício da paciência e tolerância mútuas. Não é à-toa que Paulo recomenda: “Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós...” (Cl 6:13) A quinta unidade é de princípios. Um adventista não pode agir, em termos comportamentais, espirituais e morais, diferentemente de outro. Um não pode tomar vinho fermentado alegando razões de saúde, enquanto outro se abstém conforme o ensino das Escrituras. Em seguida vem a unidade na imitação de Cristo; todos temos o Modelo Perfeito no qual plasmar nosso caráter.

Por que existe a desunião? – “Em vez da unidade que devia existir entre os crentes, há desunião; pois a Satanás é permitido entrar e pelos seus enganos e ilusões leva ele, os que de Cristo não estão aprendendo a mansidão e humildade de coração, a seguir um rumo diferente da igreja, e, se possível, a quebrar-lhes a união. Levantam-se homens que falam coisas perversas para atrair discípulos para si. Pretendem que Deus lhes deu grande luz, mas como agem sob sua influência? Seguem eles a atitude assumida pelos dois discípulos na viagem para Emaús? Ao receberem a luz, voltaram e foram ao encontro daqueles a quem Deus guiara e ainda estava guiando, e lhes contaram como haviam visto a Jesus e com Ele tinham falado.” IR, 144, 145.

DOMINGO - A importância da unidade

“Todo reino dividido contra si mesmo ficará deserto, e casa sobre casa cairá.” (Lc 11:17)

“Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer.” (I Co 10:10)

“Notai que só depois de haverem os discípulos entrado em união perfeita, quando não mais contendiam pelas posições mais elevadas, foi o Espírito derramado.” TS3, p. 210.

Paulo preconiza unidade de testemunho, unidade social, unidade de disposição mental e forma de pensar. Esse conjunto unívoco de vida cristã fala alto em prol do bom testemunho.

Para que o ideal bíblico em geral e o particular do apóstolo sejam atingidos, é exigível a união entre cada crente e Cristo, a Fonte de todo bem. Se não estiverem unidos a Jesus, não o estarão entre si - “... Vivamos em união com Ele” (I Ts 5:10).

Esse herói do Evangelho padeceu muito no próprio seio da igreja por causa das divisões que havia. Seus opositores podem ter-se valido das próprias declarações do apóstolo para incutirem dúvidas sobre a legitimidade de sua pregação. “Ora,” diziam eles, “todos os apóstolos receberam os ensinos do Evangelho dos lábios de Jesus e o transmitiram aos novos conversos. Paulo alega tê-los recebido diretamente de Cristo. Isso não nos parece muito convincente. Não há provas concretas. Ele pode estar fraudando a exposição da Palavra”.

A intenção de Paulo ao ir a Jerusalém diante da administração superior da Igreja, não foi obter-lhe a aprovação ou dar satisfações de seu trabalho, afinal ele recebera o comando de Cristo e só a Ele devia satisfações. Não viajou para a sede da Igreja simplesmente por descargo de consciência, porquanto ele mesmo atesta que recebeu uma revelação de Cristo para dirigir-se a Jerusalém Ele visava mostrar que havia dois ministérios autenticados pelo Céu: um encabeçado por Pedro, que intentava levar o Evangelho aos judeus, e outro comandado por ele que tinha a destinação dos gentios. O Evangelho era o mesmo, as finalidades idênticas, as ações é que se expandiam nas duas direções. O Cristo crucificado de Pedro era o mesmo de Paulo. A justificação pela fé em Cristo propalada por Pedro não diferia daquela ensinada por Paulo. Durante 17 anos (caps. 1:18 e 2:1) ele trabalhou enfrentando todo tipo de oposição, provações, sofrimentos, intimações e prisões. Ninguém de sã consciência reportava à alta direção da Igreja qualquer irregularidade no ministério paulino.

É possível que tenha havido alguma desconfiança, embora leve, por parte de Tiago, Pedro e João. Veja se não há evidências neste texto: “E quando conheceram a graça que me foi dada, Tiago, Cefas e João, que eram reputados colunas, me estenderam, a mim e a Barnabé, a destra de comunhão, a fim de que nós fôssemos para os gentios, e eles, para a circuncisão...” (Gl 2:9)

“Quando Deus fala, a pretensa confirmação da parte de um homem constitui impertinência. O Senhor providenciou para que os irmãos em Jerusalém ouvissem o testemunho de Paulo, e os que se haviam convertido recentemente souberam que aqueles a quem Deus envia, falavam Suas palavras, e que, portanto, todos diziam a mesma coisa. Depois de haverem se apartado de seus “muitos chamados deuses” para servir ao único Deus, precisavam ter certeza de que a verdade é somente uma e um só evangelho é para todos.” Las Buenas Nuevas, p. 17.

No rodapé da lição em inglês há uma pergunta muito importante para responder: “Quais são alguns assuntos que ameaçam a unidade da igreja hoje?”

As Escrituras deixam claro que certa união na igreja jamais será atingida: a união entre Cristo e Belial, entre trigo e joio, entre bodes e cordeiros, entre os servos de Cristo e os servos de Satanás. Também não pode existir união entre ensinos fundamentados nas Escrituras e opiniões teológicas de homens que se apartaram da simplicidade do Evangelho de Jesus.

Permitam-me citar um exemplo histórico: o teólogo Dr. Desmond Ford, em 1978, endossava a interpretação histórica da IASD sobre a ponta pequena de Daniel 8, defendendo que ela primeiramente era aplicável a Roma e não a Antíoco Epifânio. Em sua tese publicada em 1980 preparada para apresentação à Comissão de Glacier View, o homem mudou de ideia e afirmou: “Apenas Antíoco Epifânio preenche as principais especificações da ponta pequena de Daniel 8, e o período de opressão por Antíoco foi de 2.300 dias, de 171 a 165 a.C.”

Essa posição descabida e sem apoio teológico real na Bíblia provocou cisão na igreja e muitas apostasias, levando almas valiosas para o caminho descendente. Muitos renunciaram à fé e hoje se encontram à deriva.

SEGUNDA - Circuncisão e os falsos irmãos

A circuncisão , sinal da aliança entre Deus e Seu povo, que durou cerca de 1850 anos e findou com a sendo ab-rogada na cruz com a morte de Cristo, foi ciosamente guardada pelos judeus de todos os tempos. Era um sinal físico distintivo de que havia uma aliança entre o Deus do Céu e a descendência de Abraão.

Os judeus convertidos eram todos circuncidados, inclusive os apóstolos Paulo, Pedro, João, Tiago, Barnabé, etc. Em certo sentido, a retirada do prepúcio fazia parte da cultura milenar judaica.

Uma facção chamada “circuncisão” dentro da igreja primitiva (um grupo de fariseus professamente convertidos) defendia que a Lei de Moisés, incluindo a peritomia ou circuncisão, deveria ser atendida em todos os seus pormenores, mais os acréscimos que os teólogos e rabinos lhe fizeram ao longo dos séculos. Podem ser chamados de “legalistas militantes” porque, não obstante a aceitação do batismo cristão, porfiavam por estabelecer o rito também entre os gentios conversos, obrigando-os a guardar toda a lei (ver Gl 5:3). Isso significava dizer: “Toda a vossa fé em Cristo e todo o testemunho do Espírito nada são sem o sinal da circuncisão.” Waggoner.

Em verdade, eles eram batizados não, porém, convertidos. Não haviam entendido bem o Evangelho de Cristo. A doutrina agora ensinava a cessação do ritual mosaico e tudo quanto a ele estivesse ligado. Quando Paulo visitou Jerusalém, esse partido judaizante queria obrigar o missionário Tito a circuncidar-se porque ele era grego. Paulo os resistiu vigorosamente e teve o apoio da alta direção da Igreja.

O problema é que essa contenda causava confusão na mente dos recém-conversos. É necessário ou não? Um partido dizia que sim, o outro que não. A Comissão Geral decidiu que a circuncisão não era compulsória aos gentios e que os apóstolos deviam apenas dar atenção especial aos pobres entre eles (Gl 2:10).

Esse assunto nos leva a pensar nos grupos doutrinários divisionistas dentro da igreja. Desde que o Movimento Adventista começou, sempre houve indivíduos que criavam novas doutrinas ou reinterpretavam as já existentes à sua moda, para causar cismas e confusões. Pregavam doutrinas como a “carne santa”, por exemplo, o tempo de graça pós-milenário, movimentos fanáticos cujos adeptos se diziam possuídos do Espírito e gritavam rolando-se no chão, a não existência do santuário celestial, desnecessidade de uma organização e outras.

“Nestes últimos dias, surgirão falsos mestres que se tornarão ativamente zelosos. Serão apresentados todos os tipos de teorias para desviar a mente de homens e mulheres da própria verdade que define a posição que podemos ocupar com segurança neste tempo em que Satanás está operando com poder nos pregadores, induzindo-os a ter a pretensão de ser justos, deixando de colocar-se, porém, sob a orientação do Espírito Santo.

“Falsas teorias serão mescladas com todos os aspectos da experiência, e defendidos com ardor satânico, para cativar a mente de toda alma que não está arraigada e firmada no pleno conhecimento dos sagrados princípios da Palavra. Entre nós mesmos surgirão falsos mestres, dando atenção a espíritos enganadores cujas doutrinas são de origem satânica. Esses mestres arrastarão discípulos atrás deles. Insinuando-se sorrateiramente, usarão de palavras lisonjeiras e farão hábeis deturpações com enganosa habilidade.
“A única esperança de nossas igrejas é manterem-se bem despertas. Os que estão bem firmados na verdade da Palavra, os que provam tudo por um ‘Assim diz o Senhor’, estão seguros. O Espírito Santo guiará os que prezam a sabedoria de Deus acima dos enganosos sofismas de instrumentos satânicos. Haja muita oração, não segundo as normas humanas, mas sob a inspiração da verdade segundo é em Jesus Cristo. As famílias que creem na verdade devem falar palavras de sabedoria e inteligência - palavras que lhes advenham como resultado de examinar as Escrituras.” E Recebereis Poder, 127.

“Nossos membros de igreja veem que há diferenças de opinião entre os dirigentes, e eles próprios entram em polêmicas acerca de assuntos em controvérsia. Cristo pede unidade. Não pede, porém, que nos unifiquemos em práticas errôneas. O Deus do Céu traça frisante contraste entre a verdade pura, inspiradora, que enobrece, e doutrinas falsas, desorientadoras. Ele chama o pecado e a impenitência pelo verdadeiro nome. Não encobre o malfeito com uma capa de argamassa não temperada. Rogo a nossos irmãos que se unifiquem em um fundamento verdadeiro, escriturístico.” Manuscrito 10, 1905.

TERÇA - Unidade na diversidade

“É chegado o tempo para se realizar uma reforma completa. Quando esta reforma começar, o espírito de oração atuará em cada crente e banirá da igreja o espírito de discórdia e luta. Os que não têm estado a viver em comunhão cristã, chegar-se-ão uns aos outros em contato íntimo. Um membro que trabalhe da maneira devida levará outros membros a unir-se-lhes em súplica pela revelação do Espírito Santo. Não haverá confusão, pois todos estarão em harmonia com o Espírito. As barreiras que separam um crente de outro, serão derribadas e os servos de Deus falarão as mesmas coisas. O Senhor cooperará com os Seus servos. Todos orarão com entendimento a prece que Cristo ensinou aos Seus servos: ‘Venha o Teu reino, seja feita a Tua vontade, assim na Terra como no Céu.’ Mt 6:10.” TS3, 254-256.

A igreja é um composto realmente fascinante de etnias, culturas, níveis socioeconômicos e educacionais, de temperamentos, personalidades, faixas etárias, experiências, nacionalidades, origens, etc. Contudo, esse mix de variáveis se torna uno mediante Cristo Jesus. Para todos, a Palavra é uma, o Deus é único, as doutrinas são únicas, a igreja é única, o movimento é único, o Espírito é um só. Essas são as fontes para sermos unidos.

Pois bem, esse é o ideal espiritual e teológico, mas em todas as congregações existem joio e falsos irmãos. A unidade cristã não pertence à equipe do joio porque não se mistura com impiedade e falsa fraternidade.

O apelo de Paulo é ao remanescente galáctico. Cristo os havia libertado do jugo da lei. Não que a lei cerimonial ou a Lei moral fosse um jugo em si mesma, mas, distorcida e deformada pelas tradições e doutrinas rabínicas, tornara-se um fardo insuportável (ver At 15:10). Os falsos irmãos não aceitaram a liberdade que Cristo lhes proporcionou pelo derrame de Sua vida na cruz.

A verdade libertadora do Evangelho não penetrara na mente e coração dos perturbadores. Eles não tinham dificuldade de compreendê-la. O problema era desapegar-se da “rotina de formas” a que estiveram ligados por tanto tempo. É o tipo do: “Sei que estou errado, mas não darei meu braço a torcer.” Estavam contentes com a forma da Lei, mas não com o seu espírito. O moço rico garantiu a Jesus que havia sempre guardado os Dez Mandamentos, mas era só no texto da lei e não em sua essência.

Os ensinos de Cristo tinham poder libertador. A menos que o pecador fosse libertado pelo Supremo Salvador, ele continuaria escravo do pecado e de suas artimanhas, inda que professasse o mais frenético zelo. Todos morrem em Adão, mas todos são vivificados em Cristo e assim tornam-se um só corpo com Ele. Cristo é a cabeça e os crentes fiéis da Igreja Seus membros.

“Havendo visitado as igrejas da Psídia e regiões circunvizinhas, Paulo e Silas, juntamente com Timóteo, deram-se pressa em passar "pela Frígia e pela província da Galácia" (Atos 16:6), onde com grande poder proclamaram as alegres novas da salvação. Os gálatas eram dados à adoração de ídolos, mas como os apóstolos lhes pregassem, rejubilaram-se na mensagem que prometia libertação do cativeiro do pecado. Paulo e seus cooperadores proclamaram a doutrina da justificação pela fé no sacrifício expiatório de Cristo. Apresentaram a Cristo como sendo Aquele que, vendo o estado desesperado da raça caída, veio para redimir a homens e mulheres mediante uma vida de obediência à lei de Deus, e o pagamento da penalidade da desobediência. E à luz do madeiro, muitos que nunca dantes haviam conhecido o verdadeiro Deus, começaram a compreender a magnitude do amor do Pai.” AA, 207, 208.

A libertação da lei conforme mencionada em Rm 8:2, 3, merece menção à parte. Que “lei estava enferma pelo pecado”? É muito importante compreender essa “enfermidade da lei”. Quando Paulo chama a lei de “enferma” (astheneo) ele afirma que quem contaminou a lei foi o pecado, que é justamente sua transgressão. Cristo nos libertou da condenação da Lei moral e das obrigações da lei cerimonial.

“A lei é poderosa para condenar. No entanto, é débil e mesmo incapaz no que respeita à maior necessidade do homem: a salvação. Estava e está ‘enferma pela carne’. A lei é boa, santa e justa, porém o homem não tem poder para obedecê-la. Ela é como um machado bem afiado e produzido do melhor aço, porém, incapaz de cortar a árvore devido a que os braços que o movimentam carecerem de força necessária. Assim a lei de Deus não pode por si mesma operar. Ela assinala o dever do homem e o obriga a cumpri-lo. Porém, esse não pode fazer isso, motivo pelo qual Cristo veio para realizá-lo no homem. O que a lei não podia fazer, Deus o fez mediante Seu Filho.” Essa é a opinião de Waggoner para você e eu concordarmos ou discordarmos.

EGW falando sobre a lei em Gálatas, diz: “Perguntam-me acerca da lei em Gálatas. Que lei é o aio que nos deve levar a Cristo? Respondo: Tanto o código cerimonial como o moral, dos Dez Mandamentos.” ME1, 233.

"’A lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados.’ Gl 3:24. Nesta passagem, o Espírito Santo, pelo apóstolo, refere-se especialmente à lei moral. A lei nos revela o pecado, levando-nos a sentir nossa necessidade de Cristo e a fugirmos para Ele em busca de perdão e paz mediante o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo.” Idem, 234.

“Deve ser apresentado perante o povo o poder de Cristo, o Salvador crucificado, para dar vida eterna. Devemos mostrar-lhes que o Antigo Testamento é tão verdadeiramente o evangelho em tempos e sombras, como o Novo Testamento o é em seu poder manifestado. O Novo Testamento não é uma nova religião, e o Antigo Testamento não é uma religião antiga a ser substituída pela nova. O Novo Testamento é apenas o avançamento e desdobramento do Antigo.” MM02,63.

QUARTA - Confrontação em Antioquia (Gl 2:11-13)

Nem Pedro, que era um dos principais dirigentes da Igreja mundial escapou do zelo do apóstolo Paulo. O velho pescador, agora preeminente diretor da Associação Geral, viajou para Antioquia, onde Paulo e Barnabé estiveram trabalhando por um ano. Possivelmente tenha empreendido essa viagem para verificar pessoalmente a glória de Jesus na conversão dos muitos gentios, e o maravilhoso poder do Espírito Santo em prosperar a igreja.

Para os para os cristãos antioquinos foi uma alegria quando uma testemunha viva das preciosidades de Cristo lhes veio visitar. Quem sabe, antes de sua conversão, esses homens e mulheres haviam sido sempre evitados pelos judeus como ente perdida e imunda. Pedro, contudo, tivera uma visão de Deus mostrando que a ninguém deveria considerar repelente, porque Deus tinha muito povo entre os gentios. Então foi à casa de Cornélio e, em nome de Cristo, salvou muitas almas.

Outra delegação veio de Jerusalém, Eles eram do partido da circuncisão da igreja cristã; eram fariseus e haviam sido enviados pelo apóstolo Tiago como equipe de apoio.

Tão logo essa equipe chegou em Antioquia, Pedro foi atacado de chovinismo judaico (patriotismo exagerado) e começou a evitar diálogos e contatos com aqueles com quem antes fazia as refeições. Diz o venerando pastor Enéas Tognini, escritor e comentarista bíblico: “Pedro, que tinha experimentado a liberdade que há em Cristo depois da visão de At 10:10-35, começou a comer com os gentios em Antioquia.Quando vieram os judaizantes de Jerusalém, ele, hipocritamente, deixou de seguir o princípio dado pelo próprio Deus. Será que devemos aceitar esse apóstolo, mais do que qualquer outro, como infalível? Sendo, como alguns afirmam, o primeiro papa.”

Paulo, que em pouco tempo quando comparado a Pedro, havia alcançado um discernimento espiritual mais maduro e penetrante, não pôde suportar a hipocrisia e, embora Pedro sendo seu “superior hierárquico” na igreja, passou-lhe “uma sonora carraspana (repreensão)”. Paulo ficou surpreso, pois até Barnabé havia se deixado levar pela dissimulação de Pedro.

O franco e aplicado apóstolo resolveu dar uma lição de justiça pela fé a Pedro (comprovar com o versículo 16 de At 2). Esse erro mortal não podia ser tolerado, mormente em alguém que era um dos principais dirigentes da igreja.

A atitude de Paulo nos mostra que não devemos tolerar desvios da fé ou ensinos errôneos em quem quer que seja. A influência danosa de procedimentos equivocados e mesmo arquitetados não pode ser avaliada suficientemente. Os gentios ficaram confusos e se sentiram menosprezados. Todo o trabalho de Paulo e Barnabé e dos irmãos de Antioquia poderia ter falido, se Paulo aprovasse a ação de Pedro. Apostasias se seguiriam a apostasias.

Pedro se esqueceu por um momento dos entranháveis princípios de amor do Evangelho de Cristo e recaiu no judaísmo tradicionalista. Isso nos deve ensinar que mesmo um homem ungido pelo Espírito de Deus pode cometer atos censuráveis quando deixa de vigiar e orar.

QUINTA - A preocupação de Paulo (Gl 2:14)

Imaginemos que dois dos mais destacados doutores teólogos adventistas, admirados por sua erudição e capacidade, entrassem em conflito teológico. Vamos ilustrar com dois dos grandes professores da Andrews já falecidos – Dr. Gerhard Hasel e Dr. Sammuelle Bacchiocchi. Digamos que o Dr. Hasel defendesse a tese de que os adventistas deveriam festejar as solenidades judaicas do AT, adaptando-as ao contexto cristão como se fez com a Páscoa. Então, seria bom também contextualizar o Pentecostes, ou festa das colheitas, e a festa dos tabernáculos. O Dr. Bacchiocchi replicaria veementemente dizendo que, embora elas contenham ensinos preciosos, não são de obrigatoriedade aos cristãos modernos. Cada erudito defenderia sua tese do modo como só eles saberiam fazer e essas teses fossem publicadas na Revista Adventista.

Como nosso povo receberia essa contenda e quais os seus efeitos sobre o pensamento da congregação?

Tudo o que não condiz com os ensinos da Palavra de Deus, que é nossa regra absoluta de fé e prática, deve ser contestado e repelido. Aquilo que é repreensível segundo a luz que temos dos escritos inspirados, deve ser retrucado.

Paulo sabia dos bons efeitos das sãs doutrinas e também dos malefícios dos ensinos contrários ao Evangelho. Ele não teve escolha senão censurar Pedro por causa do seu comportamento artificial. Não era, como diz a lição, uma questão de fazer refeições com os dignitários que vieram de Jerusalém. O ato de Pedro era uma ação judaizante e escandalosa para os gentios. Era característico de acepção de pessoas, o que ele já fora advertido a não fazer mediante visão divina.

Por sua mudança comportamental, Pedro estava considerando os gentios como imundos e kelevs (cães, como ainda hoje certas alas do judaísmo o fazem). Aqueles que tinham ouvido do amor de Cristo e da fraternidade cristã ficaram perplexos. Será que esses temas não passavam de oratória hipócrita? Uma farsa bem articulada para obter apoio dos não-judeus? Ou existia mesmo a piedade prática tão enfatizada por nosso Senhor Jesus Cristo?

Deus não faz acepção de pessoas e detesta essa atitude. “Se, todavia, fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, sendo arguidos pela lei como transgressores.” (Tg 2:9) “Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” (Gl 3:28)

“Portanto, sendo os filhos de Deus um em Cristo, como considera Jesus as classes, as distinções sociais, a separação do homem de seus semelhantes, por causa da cor, da raça, posição, riqueza, nascimento ou realizações? O segredo da unidade encontra-se na igualdade entre os crentes em Cristo. A razão de todas as divisões, discórdias e diferenças encontra-se na separação de Cristo. Cristo é o centro para o qual todos devem ser atraídos; pois quanto mais nos aproximamos do centro, tanto mais nos aproximaremos uns dos outros em sentimento, em simpatia, em amor, crescendo no caráter e imagem de Jesus. Para Deus não há acepção de pessoas.” ME1, 259.

“A religião de Cristo eleva o que a recebe a um plano mais alto de pensamento e ação, ao mesmo tempo em que apresenta toda a família humana como sendo, semelhantemente, objeto do amor de Deus, sendo comprados pelo sacrifício de Seu Filho. Vêm encontrar-se aos pés de Jesus, o rico e o pobre, o letrado e o ignorante, sem nenhuma idéia de discriminação ou preeminência mundana. Todas as distinções terrestres desaparecem ao contemplarmos Aquele a quem nossos pecados traspassaram. A abnegação, a condescendência, a infinita compaixão dAquele que era tão exaltado no Céu, faz envergonhar o orgulho humano, a presunção e as classes sociais. A religião pura e imaculada manifesta seus celestiais princípios, levando à unidade todos quantos são santificados pela verdade. Todos se unem como almas compradas por sangue, igualmente dependentes dAquele que os redimiu para Deus.” OE, 330.

Paulo estava preocupado com divisões na igreja. “Acaso, Cristo está dividido?” (I Co 1:13). Como poderia o reino de Deus subsistir se estivesse dividido contra si mesmo? Unidade, unidade, unidade, eis a urgente necessidade.

Para ponderação – Estamos hoje fazendo acepção de pessoas na igreja que frequentamos? Tratamos todos com igual urbanidade (cortesia) ou cumprimentamos os ricos e cultos e desprezamos os pobres, ignorantes, broncos e de aparência desagradável ao “nosso refinamento”? Você e eu abraçamos, porventura, os perfumados e bem vestidos e p0spomos os não tão cheirosos e não tão alinhados? Lembremo-nos que a unidade do corpo de Cristo se faz com todos os que foram pescados pela rede do Evangelho.

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